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domingo, 18 de maio de 2014

Uma Trincheira contra as injustiças e pelas Reformas de Base do Século XXI

Por Pedro Henrichs

 O Brasil tem vivido nos últimos anos um momento único, com a ascensão ao poder de um Partido que nasceu para defender a classe trabalhadora. Desde sua primeira tentativa de concorrer à Presidência da República, houve uma movimentação da grande imprensa, que manipulou debates e ajudou a criar um clima de tensão entre o mundo empresarial, com a divulgação diária do “risco Brasil” no Jornal Nacional. 
A Direita não esperava que um operário sem nível superior assumisse a gestão do país e quando o mandato encaminhava para o segundo turno, houve uma ofensiva contra o PT e foi criada uma fantasia jurídica chamada Ação Penal 470. A novela AP 470 foi comprada pela mídia e vendida com o maior escândalo de corrupção da história do país, incriminando lideranças do PT de desviar de recursos públicos para comprar votos de parlamentares. 
Ao contrário da denúncia de compra de votos que levou à reeleição de FHC, nesta peça só precisava ter um petista para criar o domínio de fato.

O Partido sofreu com este golpe em 2005 e alguns filiados na época se aproveitaram dessa desculpa para migrar ou criar outros Partidos e empunhar uma bandeira de “não sou desse time”. Tentaram usar a AP 470 em 2006 e foram derrotados. 
O ex presidente Lula foi reeleito e mesmo à sombra da AP 470 elegeu a primeira mulher para a Presidência da República. Incansáveis, tentaram usar o mesmo factoide em 2012, “coincidindo” a apreciação da Ação no Plenário no STF com o período eleitoral, mas apesar das manchetes de “Mensalão do PT”, o Partido ampliou sua base e passou a governar mais cidades. Mas a farsa havia sido criada e precisava ter continuidade. Mesmo em um dos momentos mais legítimos da atualidade de insatisfação popular e busca por direitos e democracia, como das jornadas de junho, tentaram desvirtuar o foco das manifestações e emplacar um “prisão aos mensaleiros” e “sem partido”. 
Mas o povo nas ruas, em sua maioria jovens, sabiam que aquele não era o motivo das manifestações. Então quando o foco, que se iniciou pelos R$0,20, virou os grandes veículos de comunicação, a imprensa começou a “denunciar os vândalos” e as manifestações foram aos poucos dispersando. Alardeavam que no 7 de setembro haveria um levante popular e tentavam colar a pecha do “não à corrupção”. Não colou! 
Então no feriado da Proclamação da República surge a ordem de prisão, no espetáculo de irregularidades e voos para Brasília para que os condenados cumprissem a pena. Petistas inconformados foram para a porta da PF receber os companheiros e dali surgiu um sentimento de solidariedade, que levou alguns companheiros a acamparem na porta da Papuda. 
Assim surgiu o Trincheira da Resistência, iniciada e mantida por jovens do PT. Dela surgiu uma nova forma de discussão interna no Partido e o espaço virou um local de debate sobre os erros da AP 470, além de um megafone que ecoava nas redes sociais e denunciava as arbitrariedades do processo. Os jovens mostraram que não iriam arredar o pé e continuariam firmes na defesa. Campanhas de arrecadação de fundos mantém até hoje o espaço, que acompanha com bravura o desenrolar dos embargos infringentes, que inocentaram os companheiros da acusação de formação de quadrilha. 
 Nessa contextualização de país e Partido, cabe aos jovens mais uma vez na história do Brasil reagir e enfrentar a ofensiva da direita brasileira. Vemos o cenário de intolerância que vem sendo montado ao longo do último ano, contra a Copa, contra os rolezinhos, contra partidos políticos, contra demonstrações de afeto, com espancamentos em praças públicas. É a direita escancarando seu ódio de classes, seu preconceito, seu racismo e homofobia. 
Como sempre, são os jovens o motor que alavancam as revoluções democráticas que o país precisa e serão os responsáveis pela nova conjuntura política e econômica da República. A direita não quer correr este risco e, da nossa parte, não podemos correr o risco de não aproveitar toda esta oportunidade acumulada que a direita teme. 
Não podemos nos resignar simplesmente a seguir crescendo e distribuindo renda. Este processo, 12 anos depois, deve ser a base para retomarmos a agenda interrompida pelo golpe de 1964, contra o qual os atuais presos políticos lutaram bravamente, assim como pelo restabelecimento da democracia. Suscitando esta antiga plataforma das Reformas de Base, nota-se que em larga medida elas seguem atuais, como a Reforma agrária, a Reforma educacional, a Reforma fiscal, a Reforma eleitoral, a Reforma Urbana e a Reforma bancária. 
 Além de seu escopo em si, cabe registrar como um de seus elementos, enquanto processo, a nova lei das comunicações, que foi derrotada no Congresso Nacional justamente em dois pontos fundamentais: a punição judicial para notícias mentirosas judicialmente comprovadas e a proibição das renovações automáticas das concessões públicas para veículos de mídia. 
Em nossa opinião, esta tarefa é, imperiosamente, dos jovens petistas e de esquerda. Ou, em outras palavras, exumar as Reformas de Base de Jango, atualizando-as aos desafios e características contemporâneas. Não nos contentamos com as pesquisas que apontam vitória no primeiro turno, sabemos que ainda podemos fazer as sonhadas Reformas de Base nesse país. 
Esta plataforma é a grande concertação programática que a nova geração do PT e da esquerda têm que assumir. 

  Pedro Henrichs é militante do PT e coordenador da Trincheira da Resistência.

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