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terça-feira, 27 de maio de 2014

"Que La Camporas brotem, uma, duas, cem, tal como os Vietnãs sonhados por Che, na esquerda da nossa América do Sul!"

Há um ano atrás, José Dirceu, comprometido que era com a integração sul-americana, escreveu o artigo A Década do Kirchnerismo, sobre os avanços, em 10 anos, dos governos de Nestor e Cristina Kirchner. Recomendamos a leitura nesta proximidade com o 25 de maio, data da Revolução Argentina, de libertação nacional, e aproveitamos para reproduzir uma visão geracional da questão, abaixo, de 2012, mas atual:


A política social, a transição geracional e o crescimento na Argentina 

Fernando Pacheco e Leopoldo Vieira 

 Falem o que quiserem ou "deixe que digam, que pensem, que falem". Contra fatos, os argumentos precisam ser muito bem sofisticamente fantasiados. Isso cabe como uma luva para o caso da Argentina.
Quando Nestor Kirchner assumiu o país em 2003, após o fracasso da agenda neoliberal seguida por De La Rúa, da União Cívica Radical, braço da Internacional Socialista – a mesma do PS francês, SPD alemão e Labor inglês ou da Ação Democrática venezuelana – os índices sociais argentinos estavam assim: 45,4% de pobres e 20,9% de indigentes. Quando Cristina assumiu, segundo dados de 2007, pobreza e indigência estavam, respectivamente, em 26,9% e 8,1%. Agora, foram para 21,9% e 5,4% no período de sua reeleição até aqui. Os dados são da pesquisa encomendada pelo Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA), financiada pelo banco Galicia e pelo jornal "La Nación", de oposição. 
Mesmo assim, foi revelado que 26,4% das famílias na Argentina recebiam algum benefício sem contraprestação (58% das famílias pobres e 66,5% das indigentes). Mas, claro, aí o jornal dos Marinho, que publicaram o estudo, reclama: "ainda que de maneira pouco focalizada". Segundo ele porque "chegavam a 21,1% dos lares de classe média". E isso é ruim? Quem disse que tem que ser focalizado?
 Outros avanços sociais foram: "As casas sem água se reduziram de 14,7% para 13,6%. As residências sem rede de esgoto caíram de 37,8% para 34%. As ruas sem pavimentação se reduziram de 22% para 20,6%". Aí, o grande final: a torcida contra. 
A política social está em xeque, dizem os urubólogos de lá. Tudo porque, ano passado, "o crescimento do PIB foi de 7%". Isso porque desconsideram o instituto oficial de estatísticas, o Indec, que diz que a expansão foi de 8,9, e, embora a economia tenha retroagido só 0,5% em maio e acumule nos primeiro trimestre uma alta de 3%, chega-se à loucura de taxar: "Neste ano, o crescimento econômico poderá ser de zero ou até mesmo negativo, segundo consultores". Por quê? Ninguém explica!
A verdade é que, além de não estagnar coisa nenhuma, a retração no PIB argentino não é apenas efeito da crise econômica mundial, mas da opção pela substituição das importações para produtos industrializados. 
Uma opção corajosa, correta e soberana, que terá efeitos no desenvolvimento social e econômico daquele país muito mais do que só o aumento dos lucros de empresários (sempre meia dúzia porque de meia dúzia é formada uma classe dominante) descomprometidos com qualquer coisa que não seu caixa.
A Argentina está tomando decisões fundamentais para o futuro da integração sul-americana e seu modelo referencial, projetando crescimento amparado numa produção com valor agregado e de forte conteúdo nacional, renda média elevada, trocas comerciais cooperativas e simétricas com os países vizinhos, soberania sobre a exploração de seus recursos naturais sob controle do pode público para serem usados de acordo com o interesse público e, não obstante, a adequação de um arcabouço institucional aos progressos obtidos no econômico e no social, cujo maior exemplo é o processo de democratização da mídia local. 
Como variante "montonera" do peronismo, herdeiro de Evita e seu nacionalismo social que tanto arrepia a direitona iancófila do continente, comemoramos o advento do grupo La Campora entre os jovens kirchneristas. Uma articulação geracional, dos novos jovens de esquerda do Partido Justicialista, que tem como lema "los jóvenes en proyecto nacional", ou seja: discutindo soluções para os desafios argentinos.
 Eles articulam uma rede que vai de ativistas sociais e sindicalistas à parlamentares de todos os níveis, passando por várias funções públicas nacionais e provinciais. 
Eles são o futuro, premeditado e organizado, de uma nova geração para transformar a Argentina, não apenas para continuar as mudanças do casal "K", mas aprofundá-las. 
Que La Camporas brotem, uma, duas, cem, tal como os Vietnãs sonhados por Che, na esquerda da nossa América do Sul! 

 Fernando Pacheco é coordenador de Relações Internacionais da Executiva Nacional da Juventude do PT.
 Leopoldo Vieira é secretário do Núcleo Petista Celso Daniel de Administração Pública.

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